Volodymir Ivonovich (Bombeiro)
R- "Recuemos no tempo, vinte anos no relógio da História.
Conhecendo de antemão a tragedia que teve início naquele dia 26 de Abril, estaria disposto a acorrer de novo a Cernobyl?"
VI- " Voltaria, sim. Eu era bombeiro, era minha missão proteger as pessoas, as crianças do meu país. Os idosos. Sim, subiria de novo àquele camião."
Explica o sucedido...
VI- "Não conseguíamos ver o fogo, só ouvíamos o barulho. Sabíamos o que se estava a passar, o reactor nº 4 estava a arder."
Relativamente aos seis bombeiros que morrerem, explica...
VI- "Eles estavam no topo de tudo, olhando directamente para o reactor. Começaram a desfalecer muito rapidamente.
Não levávamos protecção, como se de fosse um incêndio normal.
Olhávamos uns para os outros, convencidos de que ninguém sairia dali vivo."
Volodymir partilha-nos também algumas das suas passagens relativamente ás consequências a nivel de saúde.
VI- "A primeira noite no hospital sonhei com um idoso que me dizia que tinha de ir à igreja. Fiz-lhe a promessa. Na terceira operação, o meu coração quase parou. Senti que estava num átrio e que Jesus me dizia: tens uma promessa para cumprir. Apoiou a sua mão na minha e regressei à vida."
Vladimir Kazimirovich (um dos contaminados de "1ª categoria" e engenheiro da central)
VK- "Os reactores eram feitos em Moscovo e éramos nós que os montávamos em Cernobyl. Nunca nos apercebemos do perigo. Mas o asfalto mudava de cor no Outono e na Primavera. Agora pensamos que havia figas."
No dia 26 de Abril Vladimir conta-nos que...
VK- "...estávamos todos a dormir. De manhã, o alvoroço corria por toda a cidade. Cheguei à varanda e consegui ver as chamas, o fumo, os helicópteros. Ninguém nos avisou, as crianças continuavam a brincar nas ruas. Ninguém nos disse para nos fecharmos em casa. Decidimos fugir para Kiev, mas foi impossível. Imensa gente a gritar, a estação em colapso..."
VK- "Disseram-nos que íamos três dias para um parque de campismo e ainda não voltamos."
Já em Kiev, a família de Vladimir viaja para a Crimeira...
"... para um sanatório. As pessoas tinham medo de nós, diziam que nos deviam isolar para que não os pudessemos contagiar.
Protegiamo-nos com chapas de chumbo contra a radioactividade. Era uma loucura, apanhávamos areia do rio e carregávamo-la em panos de pára-quedas para que os helicópteros as depositassem sobre o reactor...Não, ali não havia cobardes, os cobardes fugiram."
Yuriy Dimitrovich (trabalhador de uma fabrica localizada a poucos quilómetros da central)
YD- "Trabalhamos durante dois anos, evitamos estragos maiores, inclusive que a grande contaminação chegasse ao rio. Todo o povo soviético ajudou a 'liquidar'"
R- "Em que é que a tragédia de Chernobyl mudou a sua vida?"
YD- " Perdemos toda a vida. Eu tenho 14 doenças diferentes. Chernobyl deixou-me inválido... Mas o pior é que um dia acordamos e vemos que não temos nada: nem pátria, nem casa, nem alma."
quinta-feira, 17 de abril de 2008
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